Oradores Convidados

Potencial impacto da redução do teor de clinquer do cimento Portland na durabilidade das estruturas de concreto armado

Prof. Dr. Daniel Véras Ribeiro, Engenheiro Civil (UFBA) com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais (UFSCar / Univ. de Aveiro). Atualmente atua como Professor Associado IV da Escola Politécnica da UFBA, sendo coordenador do Laboratório de Ensaios em Durabilidade dos Materiais (LEDMa), coordenou do CT 702 IBRACON/ ALCONPAT (Procedimentos para Ensaios de Avaliação da Durabilidade de Estruturas de Concreto), que desenvolveu 10 Práticas Recomendadas neste tema. Autor de 14 livros na área e de mais de 110 artigos em revistas científicas e mais de 200 artigos em eventos nacionais e internacionais, sendo reconhecido pela Elsevier entre os 2% mais influentes pesquisadores do mundo em 2022, 2023 e 2024, entre os pesquisadores na área de engenharia.

Resumo: A indústria cimenteira é responsável por aproximadamente 8% das emissões globais de gás carbônico, além de consumir uma considerável quantidade de energia em todo o mundo. Para mitigar essas emissões, a redução da relação clínquer/cimento tem sido uma estratégia adotada pelos fabricantes, utilizando adições como pozolanas, fíller calcário e escórias industriais. No entanto, pouco se aborda a respeito da potencial influência da redução do teor de clínquer na durabilidade e na degradação do concreto. Assim, a palestra tem como objetivo refletir a respeito da influência do teor de clínquer nas propriedades físico-químicas e na durabilidade do concreto, especialmente em relação à carbonatação e ao ataque de cloretos.

O engenheiro António Teixeira Rego e a introdução da tecnologia do pré-esforçado em Portugal.

Prof. Clara Pimenta do Vale (1967) é Arquiteta pela Universidade do Porto (1991), especializada em física das construções e história da construção portuguesa do século XX, com um Mestrado em Construção de Edíficios pela FEUP (Prémio Barbosa de Abreu) e Doutoramento em Arquitetura pela FAUP. Atualmente, é Professora Associada da Faculdade de Arquitetura, vogal do Conselho Executivo da FAUP, e Investigadora Integrada do CEAU – Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo com participação em vários projectos de investigação financiados, nomeadamente ‘R2U Technologies – Modular System’, ‘CoVHer – Computer-based Visualisation of Architectural Cultural Heritage’.

Os seus focos de investigação incluem a História da Construção (numa perspetiva de aprendizagem para responder a desafios actuais como a reabilitação de edifícios, a reutilização, a sustentabilidade ou as alterações climáticas), a Arquitetura Vernacular (pela sua proximidade com materiais locais, naturais, regenerativos e a utilização racional de recursos), o estudo dos materiais de construção numa perspetiva histórica e contemporânea (cortiça, cimento natural, terra, madeira, cerâmica) e as novas tecnologias aplicadas à construção e reabilitação do ambiente construído (fotogrametria, varrimento laser, termografia, modelação, fabricação digital). 

Resumo: A comunicação irá abordar o percurso profissional de António Teixeira Rego, engenheiro português, nascido em 1906 e falecido em 1967. Docente na faculdade de engenharia, aliou o ensino e investigação a uma intensa prática profissional, trabalhando com os mais importantes arquitetos nortenhos e estando ligado a algumas das mais emblemáticas obras da cidade do Porto, como a garagem Passos Manuel, o Coliseu do Porto, ou a Casa de Serralves. Será o responsável pela introdução em Portugal da tecnologia do pré-esforçado e da pré-fabricação ligeira, discutindo as suas experiências nos fóruns internacionais.

Estratégia multi-paramétrica com integração HBIM para gestão do desempenho, degradação e mitigação das mudanças climáticas no patrimônio cultural

Prof. Esequiel Mesquita é Professor do Instituto de Arquitetura, Urbanismo e Design e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), com doutorado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Foi Professor Visitante na Universidade de Pisa e no Institut National des Sciences Appliquées de Rouen, França. É Editor-Chefe do Journal of Building Pathology and Rehabilitation e Guest-Editor do Digital Applications in Archaeology and Cultural Heritage e membro especialista do ICOMOS e da RILEM, além de estar envolvido em projetos nacionais e internacionais, com fortes colaborações na América do Sul e Europa. Suas áreas de interesse são patrimônio cultural, digitalização, HBIM, vulnerabilidade estrutural e mitigação de riscos naturais e antropogênicos e mudanças climáticas no contexto do patrimônio cultural. 

O patrimônio cultural pode ser muito beneficiado pela atualização da documentação existente. No entanto, a geração de um modelo 3D detalhado conforme construído com base em pesquisas de nuvem de pontos pode ser uma tarefa muito complexa. Neste contexto, o HBIM (Heritage Building Information Modelling) pode criar um modelo capaz de ser enriquecido por novas informações de acordo com o dinamismo do edifício histórico ao longo do tempo. O HBIM é um campo emergente de pesquisa, enquanto várias abordagens do BIM relacionadas ao projeto de novas construções já são relatadas pela literatura.

Os centros históricos estão cada vez mais sujeitos aos fenômenos antropogênicos de superaquecimento, como as ilhas de calor, que comprometem a durabilidade do patrimônio. A mitigação dos impactos ocasionados pelas mudanças climáticas, tem do um papel central nas discussões mundiais. No contexto do patrimônio cultural, os impactos ocasionados pelas elevações de temperatura, por exemplo, podem afetar o processo de degradação dos materiais, tendo impactos também para o conforto microclimático local. 

Assim, a temática abordará um breve estado da arte, com foco nas pesquisas recentes desenvolvidas pelo Laboratório de Experiencia Digital da UFC que combinam monitoramento microclimático com recurso a modelagem HBIM para a caracterização do desempenho do patrimônio cultural a longo prazo. Abordagens com foco na integração de informações provenientes de ensaios não-destrutivas e combinações com simulações numéricas para avaliação do desempenho do edificado e potencializar estratégias de mitigação do impacto das mudanças climáticas no patrimônio cultural, também serão discutidas.

Outros Processos: Degradai-vos! Entre o cimento e o betão. Uma abordagem à conservação e restauro de obras de arte

A Prof. Eduarda Vieira é Doutora em Conservação e Restauro do Património Histórico- Artístico pela Universidade Polítécnica de Valência (Espanha). É professora associada da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa- Polo regional do Porto. Foi diretora do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes – CITAR entre 2019 e 2022, sendo atualmente seu membro integrado. A sua área de investigação principal incide na Conservação Sustentável de bens culturais móveis e imóveis com destaque para os Planos de Conservação Preventiva e Gestão de Risco. Tem ainda como outras áreas de interesse científico: a Conservação do Património Integrado a conservação de Arte Pública e Arte Contemporânea, bem como as áreas de intersecção entre Ciência, Tecnologia e Arte (conservação digital, aplicação de 3D à documentação de bens culturais etc). Coordenou doutoramento de Conservação e Restauro da E.A/U.C.P entre 2012 e 2024. É autora de diversos trabalhos apresentados em congressos, conferências e seminários com arbitragem científica. Foi investigadora associada dos projetos Bionanosculp e Bio4Mural. Foi investigadora principal do projeto HAC4CG e é co-investigadora principal do projeto Holy Bodies (em curso). Tem integrado a Comissão Científica de diversos congressos e conferência na área da Conservação e de Estudos de Património. É orientadora de várias teses de doutoramento, mestrado tendo supervisionado dois pós-doutoramentos.

Resumo: O cimento e o betão foram materiais escolhidos pelos artistas para expressar a sua criatividade. Encontramo-los quer na escultura em espaço público, quer na escultura integrada em edifícios, esta última curiosamente denominadas pelo arquiteto Keil do Amaral por “entaladas” , que adornam muitos edifícios das décadas de 40 e 50 do século XX. Trata-se de tipologias patrimoniais ainda pouco estudadas no tocante à sua constituição material e processos de degradação, mas algumas das quais já a necessitar de alguma manutenção ou mesmo de restauro. O cimento e o betão não integram a lista de materiais que são abordados na formação superior dos conservadores-restauradores, pelo que sendo necessário intervir se colocam diversos desafios que só são possíveis ultrapassar com a colaboração de profissionais da engenharia civil e dos materiais. Nesta comunicação abordaremos alguns processos de degradação, e sobretudo o conhecimento e recursos disponíveis para uma abordagem científica que respeite os critérios exigidos pelas normativas da conservação e restauro de obras de arte. A partir de alguns estudos de caso exemplificaremos como através de um trabalho interdisciplinar se pode construir um quadro de procedimentos e de conhecimento no sentido da sua conservação.

Mitos e Verdades sobre a Carbonatação do Concreto – Um balanço do fenômeno até a realcalinização e modelos preditivos

O Prof. Oswaldo Cascudo  é licenciado em Engenheira Civil pela Universidade Federal da Paraíba (1987), e mestre (1991) e doutor (2000) pela Escola Politécnica da USP, com pós-doutorado no Institut National des Sciences Appliquées (INSA), na França (2004). É Professor Titular na Universidade Federal de Goiás (UFG), com vínculo desde 1992, onde atua, também, como pesquisador e consultor nas grandes áreas da durabilidade do concreto, corrosão das armaduras e patologia das construções. Internacionalmente, é membro da RILEM e ACI, atuando ativamente no Brasil junto ao Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). É pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e autor/editor de vários livros, capítulos de livro e artigos científicos, com destaque para os livros “O Controle da Corrosão de Armaduras em Concreto” (1997) e “Durabilidade do Concreto” (2014). Dentre as honrarias recebidas, destacam-se os Prêmios Ary Frederico Torres (IBRACON, 2011), Escultura CONCRETO Arte em Movimento (Associação Brasileira de Cimento Portland, 2016), Mérito da Construção (Sinduscon-GO, 2022) e Maria Alba Cincotto (IBRACON, 2022), assim como a Homenagem da Câmara Municipal de Goiânia com a outorga da comenda “honra ao mérito” (2019).

Resumo: Com o envelhecimento das obras em concreto armado e protendido, um efeito inevitável é a carbonatação do concreto. Embora o fenômeno tenha, em si, um aspecto ambientalmente positivo, uma vez que em seu mecanismo químico há a captura de CO2, o avanço das frentes de carbonatação até a profundidade das armaduras inicia processos corrosivos do aço, o que se contrapõe a esse viés positivo. A palestra discorrerá, inicialmente, sobre o fenômeno, abordando seus aspectos conceituais, mecanismos, efeitos no concreto (em especial considerando os concretos contendo materiais cimentícios suplementares – MCS) e sua interrelação com a corrosão das armaduras. A palestra também enfocará os métodos de realcalinização do concreto, apresentado brevemente os resultados de uma pesquisa que executou realcalinização química em protótipos de viga com cerca de 20 anos em exposição natural. Com base neste mesmo estudo de longa duração, que considerou 18 diferentes composições de concreto (6 misturas com MCSs e 3 relações água/ligante) sob duas condições extremas de cura, serão apresentados os principais resultados acerca do desenvolvimento de modelos preditivos: um modelo empírico-determinístico baseado em Tuutti e um metamodelo empregando-se redes neurais artificiais.